Você já pensou como seria estar morto? Às vezes acho que sei
tão bem que já devo ter morrido e estou caminhando no exterior (...). Muitas
vezes, à noite, faço a cama apertada e depois entro debaixo das cobertas e
deito com os braços rígidos dos lados, como se estivesse dentro do meu caixão.
Seguro a respiração e imagino que a escuridão do quarto é o escuro dentro do
meu túmulo. Imagino a tampa do caixão em cima de mim. Penso no meu funeral, em
todos que conheço, (...) em pé ao lado dessa cova funda e escura do chão,
vendo-me ser baixada, encolhendo-se ao ouvirem a primeira pá de terra batendo
na tampa do caixão, e aquele som ficando surdo gradualmente, enquanto minha
cova se enche, apenas terra por cima de terra. Penso nas pessoas voltando para
casa no final de um dia de sol no inverno, aconchegando-se em torno do fogo,
onde sua conversa gradualmente se volta para outros assuntos ao ter início o
conforto do esquecimento. Imagino que de vez em quando uma delas irá lembrar-se
de como me deixaram pouco antes sozinha na terra fria, e como a luz está se
apagando e estou começando minha nova existência ali, em meu novo lar, em meu
buraco no chão.
A menina que não sabia ler - John Harding
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