sábado, 28 de abril de 2012

Decrescente


Todos têm, não sei por que eu preciso ter também. Os motivos são tolos, as ideias são rasas, e o futuro... O dinheiro trará. Não é questão de escolha, é de berço. As crianças se sujam com ouro. Seu ferimento mais profundo é não ter o melhor de todos. Ser o melhor entre todos. Melhor de marca. Título. Embalagem. Melhor roupa que encoberta essa sede de altura, altitude que não existe. Elevação simbólica, notas pintadas de vermelho, verde, azul... Que ditam o que eu posso ou não ser... Ter, fazer... Papeis marcados com a alforria. Com as normas que devem ser seguidas para pertencer também ao mundo normal. O que é normal? Onde está o lado bom de ser o melhor? Vestir-se com uma blusa estampada um nome de quem-lá-sabe-o-que, e trombar a dois metros com várias outras pessoas vestidas com a mesma blusa e se sentir feliz. Feliz? Daí concluir que felicidade é ser um robô; um fantoche; uma fantasia. Ou, mais simples ainda, uma cópia. Um mundo onde todas as pessoas se sentem bem sendo iguais e ainda assim se sentem melhores. A mania de querer imitar os orientais, todos parecidos, apesar do presente que temos aqui – a diferença – de cor, voz, cabelo, altura, sorriso... Temos diferenças e é isso o que nos torna melhores. Eu não quero ser igual para parecer normal. Uma normalidade futil, cheia de símbolos e sem conteúdo. Um prazer em ser mentalmente melhor ou maior que qualquer mortal que ouse não trajar a mesma pompa. Não quero precisar ser assim para não ser olhada pelos cantos dos olhos como uma ladra, sendo que eu vejo tantos ladrões a minha volta, roubam-me a vontade de sorrir, arrancam de lá do fundo da minha alma a mais intensa repulsa e eu tento não me contaminar com isso para voltar a acreditar nas coisas. Inventar um mundo a essa altura é querer demais. Pensar que as coisas podem mudar é um desafio um tanto louco. Só sei que é preciso braços fortes para não deixar que essa onda carregue os valores. E deixar que tudo o que se acreditava até então, encontre o cais e não afunde.  A realidade não pode ser torpe assim, eu preciso da minha verdade e eu sei que ela existe... Só que bem longe daqui.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Da série: Gosto.


Sou leve. Levada pelo vento ou não. Não gosto de falsidade, mentira ou negação de origens. Gosto muito de chocolate e queria ter acesso fácil a ele. Gosto de chuva (e cheiro de chuva), orvalho, sereno, amanhecer. De ver o sol subindo e despontando raios que me cegam e me enche de preguiça. Gosto de caminhar fazendo curvas, pulando ou batendo os pés no chão, de caminhar no meio fio, e assoviar com os dedos. Gosto de me olhar no espelho e ajeitar meu cabelo... Gosto de tudo que dê pra me ver quando passo pela rua, se eu pudesse todo meu caminho seria de espelho, adoro espelhos. Gosto muito de pão com manteiga, muito, e gosto de leite com café também, mas meu café não é bom igual o da minha mãe, mas não vou falar dela agora... Gosto de conversar e falar das coisas que vejo e das minhas pequenas descobertas, falar das analogias que faço sem querer, mas que acho o máximo depois. A D O R O etimologia, por que uma palavra significa tal coisa? Porque a origem dela pressupõe que ela signifique qual coisa! Ah, isso é muito lindo. Gosto de sorvete de chocolate e cobertura de chocolate, gosto de casquinha, mas às vezes ela tira o sabor do sorvete, mesmo assim não dispenso a casquinha. Gosto do meu cabelo solto, da minha franja caindo no olho. Alface, loucamente apaixonada por alface, numa linda mistura com arroz, feijão e carne frita e/ou cozida. Gosto/amo/sou (já disse isso) carta e toda e qualquer encomenda que chegue pelos Correios, sou encantada com carteirinhos fofos e suas roupas azul e amarela, queria ter chaveiros de carteiros; caixas, adoro caixas.  Gosto de cantar no chuveiro e é sempre a mesma música, involuntariamente... ‘Deixe-me criar o hábito de amar com você...’ de Alma D’jem, gosto muito de cantores nacionais. Gosto de pessoas que sorriem pra mim quando passo na rua, de gente que se levanta pra um idoso se sentar no ônibus, de criancinha que vem no meu colo. Adoro patins e sempre quis ter. Gosto de como o sol desce e ainda escondido, clareia o céu, de como os pássaros voam fazendo desenho, das nuvens que andam, acho lindo isso. Gosto do hino do Brasil, gosto de cultura, todas aquelas populares, estilo bumba-meu-boi, frevo, aquela coisa do cravo na boca, tradição é a coisa mais linda que existe, ah, e minhas avós sabem rezar o rosário em latim, lindas no mundo. Acho divino como tudo se completa na natureza. Gosto de novelas, de atores que me fazem acreditar no que falam, de teatro e cinema. De escada rolante, mas sempre tropeço na subida, em elevador eu tenho náuseas, mas acho massa. Gosto de havaianas, short jeans e regata, de blush e derivados. Gosto de prato fundo, de copo de vidro, de doce em barra, de esmalte colorido, de urso de pelúcia, de desenhar corações, de opinar na aula, de falar baixo ao telefone, de abraçar forte, de banho quente, de falar sozinha, de fotografia, deitar na areia da praia na beirinha do mar, onde a onda vem quebrada devagar e bate na cabeça sem me tirar do lugar... Amo quando mainha me liga e me chama de bebê, fala que está com saudade, amo quando painho liga e fala que não quer me incomodar, que é só pra falar que me ama (PAI, VOCÊ NÃO ME INCOMODA NÃO, NEGUINHO!)... Ai, eu amo muito mesmo, mas muito mesmo isso! Gosto de gostos e de cheiros. E gosto de falar o que sinto.