sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Palavras de Lya

Não falarei da virada de ano convencional, do tempo de festas em que a gente se finge de santo...
Não falarei das comemorações dos escravos do consumismo, que nesta época se endividam...
Não falarei do começo de ano amargo dos que dizem que essas datas não existem: espalham o negativismo de suas decepções com a raça humana.
Talvez eu fale de um começo de ano mais simples, talvez eu fale de confraternização, abraço amigo sincero.
Acolhimento da família – amada apesar de diferenças, sabendo que a gente é aceito mesmo quando não é entendido: é respeitado e querido.
Falo de uma tentativa real de recomeçar até onde é possível: com um olhar um pouco diferente para pessoas a quem a gente admira.
Gente que nos interessa pelo simples carinho, independentemente de status, grana, importância e possível utilidade.
Falo de uma entrada em um novo ano abrindo as portas e janelas da casa e da alma.
Que a gente possa ser mais irmão, mais amigo, mais filho e mais pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e fazer feliz.
Inventando novos modos de querer bem, sobretudo a si mesmo, pois sem isso não tem jeito de gostar dos outros de verdade.


Como não consegui postar nada de 'comemorativo' hoje, peguei os posts de Lya Luft do twitter que são lindos e nada clichês. E são esses os meus desejos também, que o novo ano seja NOVO mesmo, em tudo, em todos. Que os corações cintilem, que as vozes sejam mais ouvidas e que as palavras ditas sejam suaves e que acrescentem algo de bom nessa vida!! Vamos começar outra vez! 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Implícito

Como é que se sua frio? Como é que se sonha acordado? Uns burburinhos surgem repentinos dentro, os ouvidos receiam não mais escutar com o zumbido oco que aterroriza. Subir pelas paredes, se jogar delas, nelas... Correr, e parar sempre no mesmo lugar. Ainda suando, pegar papel e caneta e esboçar lembranças, palavras semi-ditas, conselhos sussurrados, mas não passa... O sangue corre a uma velocidade absurda, os sentidos aflorados, levemente aguçados, porém atentos, enlevados, a postos.

Com quem? Só. Sozinho? Sim. Como? Assim.

A respiração se acelera também, o ritmo aumenta, o descompasso junto, o caos perdura e recupera um pouco de endorfina daquelas lembranças lembradas há pouco, porém não dura e volta a incomodar. A cama, bagunçada e cheia de papéis esquecidos, não suporta mais tantos giros, o céu, timidamente, resolve chamar as nuvens para lhe fazer companhia... As estrelas somem, a voz trêmula, quase muda, rosna um pedido de socorro, procura forças dentro, recorre ao som, às letras de música, chora...

Com quem? Só. Sozinho? Sim. Como? Assim.

É o processo estranho e metamórfico que a solidão causa, é uma euforia que pode ser usada como construção se bem aproveitada, ou desmoronamento se a força for pouca, e essa força vem da reflexão, da oração, da fé. Que se for muita, supera, digere, engrandece, cresce. A solidão comove, emociona, desidrata... Constrói, prepara, é regra expansiva de aprendizado.



Tema sugerido por Lucas, que, em contrapartida, postou a partir de uma sugestão minha : Pilula Doce

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Confiança

Rasgando o papel que selava aquele encontro, ela dizia: "- Não me torture assim... Me deixe extasiada em meu mundo, por que aqui eu sofro menos. Nem todas as minhas ações são entendidas, nem todas as minhas explicações são aceitáveis, mas, mesmo que involuntariamente, você me deixa sofrer quando na verdade o plano era correr junto, ainda que o vento fosse muito forte. Cair junto, mesmo que a queda machucasse demais... E não foi isso o que aconteceu. Agora me deixe. O meu amor por você não acabará, tampouco diminuirá, mas pensarei sete vezes mais antes de lhe entregar meu coração."
O choro contido fazia sua face tensa e rubra, as palavras lhe saíram quase que cuspidas, os olhos não transpiravam raiva, mas desencanto, e era tudo o que ela temia sentir.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Essa não sou eu - Parte 1

A verdade é que ela não era, mas seria, ou já tinha sido. As suas mudanças de comportamento, os seus momentos depressivos e intensamente auto-destrutivos, as suas insanidades em busca de êxtase, nada era planejado, mas tudo tinha um propósito. Ela queria começar do fim, pra o início ter um fundamento, mesmo que não tivesse enfim. Queria arriscar sem compromisso, sabendo dos imprevistos, queria encontrar-se em seus sonhos. Talvez parasse de fumar, talvez fumasse pra sempre. Talvez se embriagasse toda noite, ou tomasse repulsa por álcool e promoveria campanhas de reconstituição moral, se o que ela queria era 'causar'.
A maquiagem continuaria acompanhando seu estado emocional, os seus vestidos continuariam elegantes e seu hipopótamo cor-de-rosa permaneceria enfeitando sua cama e seus dias. O que acontece é que estava cansada de ficar parada, de não girar acompanhado tudo, nem precisava ser no mesmo ritmo e é claro que não era isso que ela queria, não queria sincronia, pois o momento não dispunha disso. Agora era o momento de se descobrir e encontrar na explosão, cada nota musical pra compôr a melodia perfeita. Um cheiro mímino que desenvolvesse uma colônia inimitável, precisava de sobressaltos dentro, para dar toque final ao desenho.
Ajeitou a tiara, retocou o blush, e saiu, sem raiva, sem rancor, sem malícia. O dia lhe mostraria o que fazer, já que a noite lhe causava arrepios. Precisava de encontro, de conversas, de diversidade. Ficar presa não resolveria a ânsia por querer mudança (se era isso que ela queria), foi pisando em folhas secas, jogando pedras no lago, observando seu reflexo na água e querendo acreditar que era essa a menina que se econdia atrás de tudo, atrás do seu casulo hora protetor, hora inibidor... Querendo acreditar nela, nas suas expectativas e no seu sorriso que apareceu sem esforço.


Essa não sou eu não é um texto auto-explicativo, apesar de ter muito de mim nele, muito dos meus gostos, das minhas ações inusitadas, dos devaneios... Mas eu não tenho vontade de fumar, ou me embriagar até esquecer meu nome, existem metáforas que são absorvidas mais rápido se forem óbvias. Ah... Hoje é domingo e confesso que não é um dos meus dias favoritos pra postar, a inspiração não flui 'de boa'.
 Então, até um outro post, em que talvez algo seja bonitinho, ou ao menos 'entendível'. :)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Essa não sou eu - Parte 2

Se arrumou e com uma maquiagem leve recompôs o rosto. Era um dia lindo, um domingo de outono, tempo perfeito pra ela que gostava de andar pelas ruas pisando em folhas secas para ouvir o barulho que elas faziam, estava sorrindo, com seu vestido cheio de flores, adorno simples na barra e um laço ajustado na cintura. Lembrou do celular, perdido na bolsa há tantos dias, se sentou num banco de uma praça pouco movimentada e foi conferir as dezenas de mensagens, chamadas perdidas, das pessoas procurando por ela, preocupadas com seu estado, outras cobrando atenção, outras ainda reclamando da sua falta de compromisso.
Após ler tudo, escolheu a opção 'apagar todas' e continuou a sua caminhada, passou em frente a uma loja infantil e comprou um hipopótamo de pelúcia cor-de-rosa, com uma fita vermelha no pescoço.
Mais à frente, numa sorveteria, se 'banhou' de sorvete de chocolate com paçoca, era uma mania estranha mas que a fazia livre em seus limites. Corria, pulava e com os braços abertos girava no sorteio de que direção seguir. Apontou pra um mirante, se equilibrou de tantos giros e correu para lá... e adotou aquele lugar como seu refúgio de ressaca. Como sua casa da árvore.
No caminho de volta para casa, cansada de tanta loucura, viu que estava feliz por encontrar a sua fuga em coisas tão simples e absurdas. Acendeu um cigarro e no reflexo de uma vitrina se viu, fez poses, sorriu, e sussurrou de si para si:  "-Essa não sou eu... mas poderia ser..."



to be continued. :]

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Essa não sou eu - Parte 3

Já embriagada, se deitou no sofá que tomava toda a sua sala. A mão estirada no cinzeiro depositando réstias do cigarro. Passara o dia inteiro remoendo pensamentos que literalmente te derrubavam, amores passados, sonhos que não se realizavam, dilacerava seu coração. Não teve condições de ir trabalhar hoje, não se continha de pé, após  dois dias e duas noites soterrada em seu próprio desmoronamento. Sempre estava elegante, mas havia uma dor, um cansaço, indisposição que tomava conta de suas forças... Extasiada, adormeceu.
Às 10:37 o telefone toca, acordando, se espreguiçou desleixada, pegando o telefone indelicadamente e colocando no gancho outra vez, arrancou os fios da tomada e se arrastou até o banheiro, abriu o chuveiro e saiam de seus olhos tinta preta e condensada. Era uma moça bonita, jovem e desiludida. Saiu do banho, secou os cabelos e se enrolou num roupão azul, tinha fome e não se lembrava de ter feito compras, a geladeira provavelmente estava vazia assim como sua mente. Não pensava, não estava lúcida o suficiente pra pensar. Nem se lembrava de como ou quando tinha chegado em casa, mas isso era o que menos importava sendo que ela estava em casa, mas seu coração se perdeu, em uma dessas ruas movimentadas, algum beco imundo, sem iluminação, num país, num planeta qualquer... Olhando no espelho sentia raiva e compaixão do que via, chorava, gritava tentando se lembrar de quando ela era ela... mas não conseguiu.






to be continued. (haha, meu sonho escrever isso!)